quarta-feira, 16 de julho de 2014

Terceirização de Filhos: Contratam-se Mães


Foi no verão de 2013 que notei a ocorrência desse fenômeno. A minha filha tinha então 1 ano e meio e estávamos aproveitando as férias na praia, quando resolvemos no refrescar. Ao entrar na água constatei rapidamente que, embora estivesse em meio a um mar de gente pequena, eu era a única mãe ali presente. À exceção de Maya, todas as crianças estavam acompanhadas de suas respectivas babás. Comecei então a observar aquela cena: uma babá tentava inutilmente impedir que um garotinho atirasse nos outros com sua pistola aquática, outra mergulhava e tornava à superfície repetidamente arrancando gargalhadas de uma bebê gorduchinha cada vez que surgia dizendo “bu!”, enquanto  uma terceira encorajava seu “tutelado” a perguntar o nome do amiguinho.

A partir daquele dia passei a olhar com mais atenção para aquelas mulheres que deixam seus próprios filhos em casa para se tornarem mães de filhos alheios. Aquela figura que destoa, que choca e incomoda ao ponto de ter sua entrada preconceituosamente vetada em piscinas de clubes, mas sem cuja existência posso afirmar que muitas mães simplesmente não saberiam ser mães. Não saberiam porque escolheram terceirizar a maternidade, delegando às babás as funções de limpar, abastecer,  entreter e apagar a cria, além de ministrar os medicamentos, levar e buscar na escola, educar e deseducar.

Fico me perguntando o que tinham em mente essas mulheres quando decidiram ter filhos. Talvez pensassem que a maternidade se resumisse aos custos financeiros que ela implica. Ser mãe seria então apenas pagar boas escolas e presentear com brinquedos caros? Não, Cell, claro que não. Tem também aquela parte de ir ao shopping comprar roupas bonitas. Afinal de contas, ser mãe é também poder exibir uma miniatura nossa com impecável elegância nos eventos sociais. Tá, e o que mais?

Preciso deixar claro que não estou me referindo às mães que, pelas mesmas razões das babás, são obrigadas a passar o dia longe dos seus filhos. Nem àquelas que – como eu gostaria de poder fazer – contratam uma pessoa para auxiliar nos afazeres doméstico. Esse texto é sobre aquelas mães que podem dedicar mais tempo às suas crianças, mas por algum motivo preferem não fazê-lo. Não sou eu que vou dizer se você se encaixa nesse grupo. E caso a carapuça tenha servido, também não sou eu que vou julgá-la ou condená-la. Se fizesse isso, precisaria calada ouvi-la apontar cada um dos meus defeitos como mãe. E eles não são poucos.

A intenção desse texto não é fazê-la  sentir-se culpada, mas levá-la a refletir no que VOCÊ pode estar perdendo com isso. Ver um filho descobrindo o mundo é uma das coisas mais fantásticas que podemos presenciar. As expressõezinhas que eles fazem, as coisinhas sem sentido que inicialmente falam, e que aos poucos vão se transformando em frases coerentes sem a gente nem se dar conta de como haviam crescido. Citando o psicólogo e terapeuta familiar Alexandre Coimbra Amaral, "as horas de lazer são momentos de construir pequenos e sucessivos rituais de conexão com nossos filhos, ou seja, é nesse momento que eles conhecerão melhor quem somos e nós teremos acesso às suas crenças e como estão construindo a sua visão de mundo. Isto é de uma riqueza insubstituível." Não abra mão disso. Não abra mão do bem que fará a vocês se viverem esses momentos juntos.  Não deixe para outra pessoa o prazer de lamber a sua cria. 

Abaixo segue um vídeo do pediatra José Martins Filho sobre as crianças terceirizadas. Vale uma galinha inteira assistir.


3 comentários:

  1. Excelente postagem e o video é maravilhoso!

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Obrigada Lore!! O video realmente é muito bom e levanta uma questão que é muito comum entre as famílias que podem pagar pela terceirização. Bom te ver por aqui! Apareça!

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