terça-feira, 29 de julho de 2014

Não somos responsáveis pelo futuro dos nossos filhos

Há alguns dias descobri algo que tirou um peso ENORME das minhas costas: eu não sou responsável pelo futuro da minha filha. Talvez tenha sido a descoberta mais importante de toda a minha vida de mãe. Cheguei a essa conclusão enquanto pensava sobre as coisas das quais privaria a Maya se decidisse viver a vida simples que eu tanto quero: as boas escolas (será que são boas mesmo?), o conforto, a praticidade. E só o que me vinha a cabeça era o trecho de uma velha canção: “Como será o amanhã? Responda quem puder.” 
Eu não posso responder. E por isso mesmo decidi me desapegar da necessidade de tomar decisões definitivas e eternas. Sou nova, tenho uma vida inteira pela frente para errar, acertar, cair e levantar. E se eu, aos 24 anos, posso me sentir assim, o que dizer da Maya que ainda não tem nem 3? Ela tem tempo mais do que suficiente para correr atrás de possíveis prejuízos e reverter qualquer possível estrago que eu venha a fazer na vida dela a partir das escolhas que fizer para a minha. E essa responsabilidade é DELA, inclusive. Quem tem que trilhar o caminho dela é ELA. As portas que tiverem que ser abertas hão de ser abertas por ELA. 
Maya está entregue a Deus desde antes de nascer. E seu tenho fé, eu preciso acreditar que Ele está olhando por ela e não vai permitir que ela se torne vítima de escolhas alheias, que Ele vai fazer dar tudo certo para ela, mesmo que dê tudo errado. O que Ele tem preparado para ela, o que ela veio produzir, construir e receber desse mundo é um papo entre eles dois. É uma relação que independe de mim. Eu estou buscando na MINHA relação com Ele, encontrar o MEU caminho. Estou trocando uma ideia com Ele pra ver se a gente chega num consenso e eu descubro o que é de fato que Ele tem em mente. Porque se Ele colocou esse desejo tão forte dentro de mim, Ele sabe o que está fazendo. Assim como sabia muito bem o que estava fazendo quando mandou a Maya de supetão pra bagunçar a minha vida toda. Ele sabe que agora ela faz parte do pacote, que ela está na mochila e vai a onde eu for porque é um pedacinho de mim. 
Filhos são presentes que Deus coloca na nossa vida para a gente aprender um montão de coisa, para a gente descobrir o amor, para a gente crescer em vários aspectos das nossas vidas. E eu agradeço a oportunidade de conviver com essa vidinha tão especial que é a Maya, mas não consigo acreditar que sou totalmente responsável pelo seu destino. Acho que é ilusória a ideia de que controlamos a vida da cria se nem mesmo a nossa podemos controlar. No fim das contas, 99% dos filhos seguem rumos diferentes daqueles que foram projetados para eles.
Eu mesma sou um exemplo disso. Não acho que fizesse parte do planejamento dos meus pais que a maternidade fosse preceder a formatura e o casamento na sequencia de acontecimentos da minha vida. Não acho que eles imaginaram algum dia que eu ia querer viver em meio a galinhas e plantações nem que fosse abandonar o promissor curso de Direito para cursar Pedagogia. Acho que não imaginaram tantas outras coisas que terminaram por acontecer comigo, mas não há que se culpar ninguém por isso. Eles me deram o melhor deles, que acabou sendo o melhor para mim. Cada conhecimento, cada encontro, cada momento que eu vivi no trajeto que trilhei a partir das escolhas que eles fizeram para mim, foi determinante para que eu me tornasse quem  sou e escolhesse viver de outra forma. Se eu estou insatisfeita com o rumo que a minha vida tomou, a responsabilidade de mudar isso é MINHA apenas. Eu é que tenho que abrir as portas que vão me levar a onde eu quero ir, assim como a Maya vai fazer um dia se ela entender que as portas que eu abri para ela não são as que ela quer entrar: 
- Olha só manhê.... valeu você ter me ensinado essas parada de contato com a natureza, comer mais saudável, simplicidade e tals, mas aí... essa vida de bicho grilo do mato né pra mim não, falou? Eu quero mesmo é a badalação da cidade grande.
 - Vai nessa então, Maya. Se joga! Que Deus te abençoe, te proteja, te guie e te guarde, amém.
E aí, titi, é entre ela e Ele. Eu já não vou ter mais nada a ver com isso. É a hora que eu fico com meu coraçãozinho apertado, olhando de longe, torcendo pra dar certo e pensando comigo mesma: “é... a pequenininha com cheiro de feijão cresceu!
Tenho percebido a cada dia que a minha felicidade está muito mais relacionada a aprender a viver com menos do que a obter mais e não consigo achar coerente abrir mão dessa felicidade porque um-dia-talvez-quem-sabe a Maya possa vir a preferir outra coisa. Não vejo sentido em submeter a minha filha a uma vida que é contrária a minha ideia de vida em nome do futuro far far way dela que eu nem sei como vai ser. Não posso construir a minha vida com base em expectativas futuras e por isso também não crio expectativas para a Maya. Não espero que ela seja advogada, nem médica, nem professora, nem nada. Nem mesmo que seja bem-sucedida financeiramente. Eu quero que ela seja quem ela é, quem ela veio ser no mundo. Que tenha tempo para mergulhar dentro de si e descobrir isso e muitas outras coisas que as escolas mais cara do mundo inteiro não são capazes de ensinar. Que não tenha a infância obstruída por uma agenda de adulto, pulando de uma atividade para outra para garantir o seu sucesso profissional. Que tenha tempo para ser criança sem ter que ouvir diariamente que a mamãe está atrasada (“Como assim você não comeu essa banana ainda, Maya?”). E finalmente, quero que adquira valores que essa vida aqui me impede, ou pelo menos me atrapalha, de lhe transmitir.
Como ensinar o valor da gratidão, quando nunca se tem o bastante? Como ensinar o valor da simplicidade onde somos o que temo$ para oferecer? Como ensinar o valor da solidadriedade, se mandamos as nossas crianças para escolas cujo principal objetivo é prepará-las para uma guerra chamada vestibular? Como vou ensinar à Maya que ela é linda do jeito que ela é, se a sociedade vice-campeã das cirurgias plásticas vai martelar o tempo inteiro na sua cabecinha que ela precisa ter o cabelo liso, o peito grande e a cintura fina?
Não faz sentido. Por isso posso dizer que há algumas coisas que ainda me prendem aqui e me impedem de viver o meu sonho, mas a minha filha CERTAMENTE não é uma delas. Entender isso foi de certa forma reconfortante. Agora sei que se por acaso esse sonho não vier a se concretizar, não irei derramar sobre ela as minhas frustrações. Sei que terei sido eu a ÚNICA responsável por isso, por não ter tido coragem ou força de vontade suficientes. Você não, morena. Você não tem nada a ver com isso.

4 comentários:

  1. "Não espero que ela seja advogada, nem médica, nem professora, nem nada. Nem mesmo que seja bem-sucedida financeiramente. Eu quero que ela seja quem ela é, quem ela veio ser no mundo. Que tenha tempo para mergulhar dentro de si e descobrir isso e muitas outras coisas que as escolas mais cara do mundo inteiro não são capazes de ensinar. Que não tenha a infância obstruída por uma agenda de adulto, pulando de uma atividade para outra para garantir o seu sucesso profissional. Que tenha tempo para ser criança sem ter que ouvir diariamente que a mamãe está atrasada (“Como assim você não comeu essa banana ainda, Maya?”). E finalmente, quero que adquira valores que essa vida aqui me impede, ou pelo menos me atrapalha, de lhe transmitir."

    Você acaba de resumir tudo o que venho pensando desde que engravidei. Viver nessa corrida que não vai dar em lugar nenhum não é o que desejo pra minha filha, e nem que vou proporcionar a ela. Mas se depois disso ela quiser entrar na corrida por livre e espontânea vontade meu amor será suficiente para respeitar a decisão e torcer por ela. Parabéns pelo texto!

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    1. Obrigada Rayra!! 'E isso mesmo que voce escreveu... o amor que temos tem que ser suficiente para respeitar o ser que eles sao... Devemos buscar fazer mais verdadeiro possivel esse encontro no momento que se chama AGORA para que possamos continuar participando e partilhando das escolas deles quando chegar a hora de decidirem sozinhos. Qual o nome da sua filha?

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    2. A minha é Maria Eduarda. Um ano e sete meses mostrando que não está nem aí pro meu planejamento! rsrsrs Sem se dar conta ela vai dia a dia me lembrando que não somos mais uma só, e que ela tem seu próprio caminho.

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    3. "Um ano e sete meses mostrando que não está nem aí pro meu planejamento!" Hahaha! Muito bom! É isso aí, Maria Eduarda. Você tem mesmo o seu caminho a trilhar e a felicidade de ter, fazendo parte dele, uma mão que entende e respeita.

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