terça-feira, 22 de julho de 2014

O Neto Filho do Filho

Filho da minha filha, meu neto é. Filho do meu filho, será ou não?

A resposta a essa pergunta pode depender também de você. Como você estimula a relação do seu filho com a avó paterna? Dá a ela a mesma liberdade concedida à sua mãe?

É engraçado como essa nossa sociedade machista produz famílias matriarcais. A postura de prender as cabras e soltar os cabritos possibilita à filha mulher estabelecer com o clã vínculos afetivos mais fortes, que são por ela mantidos mesmo após o casamento. É o que geralmente acontece, mas toda regra tem suas exceções. Lá em casa, por exemplo, o tratamento foi sempre o mesmo para os dois filhos. Não tinha nem aquela história do menino ser mais apegado à mãe e a menina ao pai. Era tudo muito igual mesmo. Acho que quando o meu irmão for pai, os filhos dele serão tão netos dos meus pais quanto a Maya.

Isso, é claro, no que depender dele. Digo isso porque, afinal de contas, ninguém faz filho sozinho. Haverá a participação daquela outra, a "estranha", a "de fora da família" - a mãe - que nesse caso específico somos eu e você. Somos todas mulheres dos filhos de outras mulheres ou pelo menos mães dos filhos dos filhos de outras mães. Por que razão elas haveriam de ser menos avós dos nossos filhos do que as nossas mães?

É natural que logo após parir a cria, a gente deseje a companhia da pessoa que nos faz sentir mais à vontade: aquela que nos pariu. Principalmente se for o primeiro filho. É tudo tão novo, tantas coisas diferentes para fazer, tanta gente querendo dar pitaco. Em meio a todo esse turbilhão, agravado ainda pela ausência de horas de sono, pode até ser perigoso ter a sogra por perto. Com a nossa mãe a gente tem liberdade para dar um chega para lá, que ela entende. A sogra pode não aceitar tão bem, pode se ofender, e aí a m... está feita.

Mas o desespero passa. A gente vai se acostumando à maternidade, e as coisas vão ficando mais tranquilas. Ainda assim, algumas mulheres optam por continuar mantendo a sogra a uma distância segura de si mesma e consequentemente da cria. Será que temos esse direito?

Dizem que os netos são a última grande paixão dos avós. Acho que a palavra "última" dá uma ideia um pouco fúnebre a essa frase tão bonita. Só do meu lado, a Maya três bisavós e uma tataravó, o que significa que eu não fui a última grande paixão de nenhum deles. Mas de qualquer forma, os netos são sim uma grande paixão. Eu lembro que quando a Maya era menor, sua avó paterna Maria Alice ficava decepcionada quando chegava lá em casa e a encontrava "desembrulhada". Eu não a embrulhava porque não fui embrulhada, já que nasci em Salvador e imagino que embrulhar bebês soteropolitanos seja considerado tortura. Quando muito, apareço nas fotos com uma calcinha por cima da fralda de pano. Mas a Maya nasceu em Brasília. Não faz tanto calor. Dá pra deixar o neném mais quentinho. E era isso que a minha sogra fazia. Pegava alguns daqueles cueirinhos e empacotava a neta com tanto carinho que chegava a me emocionar. E em seguida a embalava e cantava para ela dormir. Como poderia eu querer tirar isso delas?

Talvez seja mais fácil pra mim falar isso, já que a minha sogra não é sogra, é "tia". Eu tinha 15 anos quando comecei a namorar o Ed, de modo que até hoje, aos 24, só consigo chamá-la assim. Tenho por ela um carinho sincero, sem puxa-saquismo, e sei que embora ela naturalmente não concorde com algumas das minhas atitudes, a recíproca é verdadeira. Mas e quando a sogra é aquela típica megera? E quando a relação entre sogra e nora assemelha-se a uma Guerra Fria?

Aí é hora de você pensar na cria. Não é só a sua sogra que vai sair perdendo se você privá-los dessa relação. O seu filho perde também a chance de estabelecer mais um elo de amor verdadeiro e incondicional. Não significa que você deve deixá-la fazer o que quiser. Apenas não use com ela medidas diferentes das que você usa com a sua mãe. O mesmo tem que valer para as duas. Escrevi aqui algumas dicas de como lidar com os mimos exagerados da sua mãe. Você pode utilizá-las também com a outra avó, fazendo as adaptações necessárias.

É verdade que muitas vezes acontece o inverso. Algumas noras se queixam da diferença do tratamento dispensado pelas sogras aos seus filhos em relação aos filhos de suas cunhadas. Se for esse o seu caso, converse com ela. Numa boa, sem acusações. Mostre que eles não são menos netos que os filhos das filhas e dê a ela liberdade para paparicá-los também.

Você pode pensar que isso é obrigação do seu companheiro, já que ele é o filho dessa mulher. Mas talvez ele tenha sido criado como um cabrito solto, e não tenha a mesma noção que você de como é importante o vínculo familiar. Talvez caiba mesmo a você resgatar isso. E as mães de menino tem um motivo a mais para fazê-lo. Se não for pelo bem da coletividade, que seja por você mesma. Provavelmente o seu cabrito querer ter uns "cabritim" futuramente. Quanto maior for o vinculo dele com a família paterna, menor a probabilidade dele se debandar pra família da mulher, levanto consigo os seus amados netinhos. Se ele crescer acreditando que o lado da mãe é mais família que o lado do pai, talvez você precise mesmo aceitar a ideia de que "o filho homem a gente perde para a vida".

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