segunda-feira, 14 de julho de 2014

Mães Anônimas


Você já participou de uma reunião de alcoólicos anônimos? Eu ainda não tive essa oportunidade, mas tenho um amigo que já frequentou por curiosidade e me falou sobre o quão acolhedor lhe pareceu aquele ambiente. O que mais o chamou atenção foi o radicalismo da confissão daquelas pessoas. Elas não estavam ali porque eram boas o suficientes para isso. Ao contrário, elas iam lá para falar sobre os seus tropeços e apoiarem uns aos outros. Sem julgamentos. Sem cobranças. Leve e reconfortante.

Fiquei pensando em como seria bom se nós mães pudéssemos falar abertamente sobre os nossos erros. Todas sabemos o quanto nos sentimos perdidas de vez em quando, sabemos que muitas vezes fracassamos e tomamos atitudes que não são dignas de aprovação. Sabemos inclusive que o erro é pré-requisito da maternidade, mas não falamos sobre ele. Em vez disso preferimos nos gabar do que dá certo. Falar com aquele ar de orgulho sobre como as nossas crianças são educadas, limpas, inteligentes e bem alimentadas. Aconteça o que acontecer, precisamos parecer boas mães perante a sociedade. Ela nos exige isso.

Nada pode ser pior do que uma mãe negligente, ou permissiva, ou agressiva, ou indiferente. Nem o pai que estupra a própria filha é pior do que a mãe que consente calada. Pelo amor de Deus, não estou aqui defendo esse tipo de conduta. Apenas a utilizei para demonstrar que não há perdão para uma mãe que falha. A cobrança sobre ela sempre será maior. E isso vale tanto para os erros imperdoáveis como o desse exemplo grotesco, quanto para os pequenos descuidos pedagógicos que muitas vezes cometemos. E o mais curioso é que nós somos também essa sociedade que nos cobra tanto. Não há olhar mais cruel e constrangedor ao deslize de uma mãe do que aquele lançado por outra mãe. A Super Mãe que não erra nunca.

Quantas vezes me peguei condenando inconscientemente a conduta de outras mães? Mães muitas vezes desconhecidas, sobre cuja história nada sei. Não sei o dia que essas mães tiveram, não sei o contexto em que a situação está acontecendo, apenas olho e acredito que aquele único ato naquele único instante me é suficiente para julgar todo o seu comportamento. E, sinceramente, ainda que fosse, quem sou eu para apontar-lhes o dedo? Acaso não erro também? Acaso não já vivi um dia “daqueles”, em que a gente apenas quer sobreviver à cria? Então por que é mesmo que fazemos isso? Já não padecemos o bastante no paraíso da maternidade? Precisamos colocar essa carga extra umas nas outras?

Não é fácil abandonar esse hábito, eu sei. O julgamento é algo tão enraizado na nossa cultura que acontece praticamente de forma automática. Será preciso um esforço constante e treinamento quase diário. A todo momento você cruza o caminho de outras mães nas ruas, nos shoppings, nos parques. Muitas vezes elas estarão agindo de um modo que você julga inapropriado. Simplesmente não as julgue. Considere a possibilidade delas terem escolhido uma forma de ser mãe diferente da sua e siga o seu caminho. Ajude se achar necessário. Mas se fizer isso, não se coloque numa posição superior. Reconheça-se como imperfeita. Dê dicas e seja humilde para recebê-las também. Poderemos, dessa forma, trocar experiências e opiniões. Perceberemos aos pouquinhos que em muitas situações os conselhos das mães bem-sucedidas ajudarão menos do que o consolo daquelas que também falharam. E, em vez de nos tornarmos um peso umas para as outras, aprenderemos a nos ajudar mutuamente nessa tarefa tão nobre e árdua que é a maternidade.

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