domingo, 17 de agosto de 2014

Escolas Multisseriadas

Vistas como um modelo de educação retrógrado e precário, as chamadas escolas multisseriadas se apresentam para mim como uma possibilidade maior e mais ampla de desenvolvimento do que o padrão urbano de ensino. Como se todas as crianças nascidas no mesmo ano fossem iguais, as escolas comuns as agrupam por idade, limitando a sua convivência com colegas de diferentes faixas etárias ao período do recreio. Penso que em vez de preparar alunos para a realização de uma prova, as escolas deveriam prepará-los para a vida em comunidade, e viver em comunidade implica em se relacionar com crianças, adultos e idosos trocando experiências e superando diferenças. Por isso, compartilho hoje uma pequena matéria da Suellen Smosinsk, que ouviu professores do meu tão amado Vale do Capão:

Segundo dados do Censo Escolar de 2011, 45.716 escolas do Brasil ainda possuíam salas multisseriadas, onde são ministradas aulas para alunos de diferentes idades e séries. Destas, 42.711 ficam na zona rural e 3.005 na zona urbana – são 1.040.395 matrículas na zona rural e 91.491 na urbana. Para educadores ouvidos pelo UOL na região da Chapada Diamantina (BA), o modelo de salas multisseriadas pode ser benéfico para a alfabetização e aprendizado dos alunos.
No entanto, a educadora reconhece que muitos professores que trabalham em parceria com o instituto gostariam que as salas multisseriadas não existissem mais. Ela também vê com ressalvas salas com alunos de idades muito diferentes.

"Eu fui professora de sala multisseriada e acho fantástico. Tem uma oportunidade muita rica de você fazer agrupamentos produtivos, das crianças se integrarem e aprenderem juntas. Porque o conhecimento tem essa natureza da diversidade e da participação colaborativa de todo mundo", afirmou Cybele Amado, presidente e diretora executiva do Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa).
"Se você juntar crianças de 5 e 6 anos com adolescentes de 16 e 17 anos é um pouco complexo por causa da distância das idades, mas isso não quer dizer que, mesmo nas salas seriadas, eles não possam ter espaço para aprender juntos", disse Cybele.
Cybele acredita que o sucesso das salas multisseriadas depende da formação continuada do professor e de planejamento. "Na Chapada, existe um grande número de multisseriadas, mas não é mais com crianças de 5 a 10 anos. Você junta a antiga 1ª com a 2ª série, a 3ª com a 4ª. Antes eles estavam todos juntos, hoje é mais dividido, mas ainda tem também [salas com alunos de idades muito diferentes]".
A professora Mab Silva Vieira Santos, que trabalha com educação infantil no município de Ibitiara (a 404 km de Salvador), contou que a filha conseguiu se alfabetizar aos quatro anos de idade, em uma escola da zona rural. "Eu acho que as crianças de outras cidades muitas vezes não sabem o que os alunos de Ibitiara já aprenderam. Como mãe, a gente fica despreocupada. Não colocaria meus filhos em uma escola particular", falou. A coordenadora pedagógica Neurilene Ribeiro, 44, acredita que as salas multisseriadas nas zonas rurais representam uma forma de garantir os estudos nessas regiões, pois nem sempre existe um quantitativo de alunos que dê para formar salas seriadas. "Eu defendo a fertilidade das classes multisseriadas se forem asseguradas as condições institucionais e pedagógicas que são próprias do ensino", afirmou. Para ela, uma escola não pode ser considerada ruim por ser rural ou multisseriada: "Ela é ruim por não ter as condições mínimas asseguradas", completa.

Vi aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário